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12 de novembro de 2025

Aceleração Social e os seus impactos na saúde mental

Por que será que temos a percepção de que nos falta tempo?

A aceleração social, discutida por Hartmut Rosa, ajuda a entender por que tanta gente hoje vive com a sensação de que “não dá conta” mesmo quando a tecnologia promete facilitar tudo.   Esse fenômeno não é apenas um aumento de velocidade em tarefas, mas uma transformação profunda na forma como experimentamos o tempo, as relações e a nós mesmos. Essa mudança afeta diretamente a saúde mental.

1) O que estamos chamando de aceleração social
Segundo Rosa, vivemos três tipos de aceleração: tecnológica, das mudanças sociais e do ritmo de vida. A primeira reduz distâncias e multiplica tarefas; a segunda faz instituições, vínculos e modelos de vida mudarem mais rápido do que conseguimos acompanhar; a terceira produz a sensação constante de falta de tempo. Apesar de a tecnologia economizar horas, o cotidiano se enche de novas demandas — e aquilo que deveria aliviar passa a pressionar.

2) Efeitos no modo de existir
A aceleração muda o modo de estar no mundo. As relações se tornam mais frágeis, a atenção mais dispersa e a subjetividade mais vulnerável. Rosa usa expressões como “estruturas descartáveis” e “eu saturado” para descrever um sujeito que precisa se ajustar o tempo todo, sem espaço para continuidade, tradição ou processos lentos. Isso fragmenta a experiência: a vida passa a ser vivida em episódios, não em trajetórias.

3) Impactos clínicos
No contexto da saúde mental, isso aparece em várias formas: ansiedade, irritabilidade, cansaço persistente, dificuldade de foco e um sentimento crônico de insuficiência. Sintomas descritos no DSM-5 para transtornos ansiosos se intensificam quando a pessoa vive sob uma dinâmica externa que exige desempenho permanente. A sensação de estar em “débito de tempo” corrói autoestima, vínculos e capacidade de elaborar experiências.

4) Quando a aceleração vira norma social
A competição, o imediatismo e a lógica da produtividade moldam expectativas sobre como devemos viver. Relações afetivas, carreira, corpo e até lazer entram nesse ciclo. O problema é que, quando tudo gira rápido demais, a interioridade não consegue acompanhar. Ficamos sem tempo psíquico para digerir mudanças, lidar com conflitos, viver o luto ou amadurecer escolhas.

5) Possíveis caminhos
Rosa aponta a ideia de “ressonância” como alternativa: experiências e relações que permitem conexão real, em que o sujeito se sente tocado e capaz de responder. Na prática clínica, isso significa trabalhar limites, ritmos internos, hábitos que criam continuidade, experiências corporais e espaços de silêncio. São formas de recuperar um senso de presença que não dependa da velocidade.

6) Para quê tudo isso?
Compreender a aceleração social não é uma crítica nostálgica ao passado, mas uma forma de perceber o quanto o adoecimento psíquico contemporâneo é também um fenômeno social. Quando o ritmo de vida se torna um critério moral, desacelerar parece fracasso e é justamente aí que a saúde mental se fragiliza.

Para aprofundar:

Rosa, Hartmut. Alienação e Aceleração: Por uma teoria crítica da temporalidade na modernidade tardia. Vozes, 2022.